Elisabete Jacinto considerou hoje que a decisão de anular o Rali Lisboa-Dakar é «estranha» e pode comprometer o futuro da prova, ideia também partilhada por Bernardo Vilar.
«Claro que parece estranho. Eu não tenho informações suficientes para dizer seja o que for. Sei que até agora a organização disse sempre que tinha garantido a segurança e que trabalhou junto do governo da Mauritânia para garantir a segurança de toda a comitiva. Agora é estranho que, à última da hora, mesmo na véspera da partida, se venha a tomar uma decisão destas», lamentou a piloto portuguesa, que ia fazer a prova em camiões.
Elisabete Jacinto disse que o sentimento que a domina «é a frustração» e quer «acreditar que houve razões válidas para a organização tomar esta opção», apesar de sublinhar que não tem as informações todas para saber se a decisão foi a acertada.
«Estamos numa época dos meios de comunicação, em que um microfone e uma câmara fazem milagres. O Dakar, no figurino que conhecemos, até pode terminar aqui e começar outra prova, não se chamando Dakar, mas outra coisa qualquer, com o mesmo espírito, com linhas muito idênticas e com a mesma força ou ainda maior«, disse.
Jacinto disse que «o Dakar sobreviveu 30 anos», apesar de ter passado por «épocas e situações muito mais difíceis, em que não havia tecnologia, a segurança era mínima, as pessoas se perdiam no deserto e corriam realmente risco de vida».
«Chegámos a uma época em que temos tudo para nos salvaguardar, os meios de segurança são enormes, já ninguém se perde, a organização sabe sempre onde nós estamos, em caso de acidente o socorro vem relativamente rápido, se pensarmos que estamos no meio do deserto, e anula-se um rali inteiro por motivos de segurança. Dá que pensar...», reiterou.
Elisabete Jacinto, que iria conduzir um camião MAN na prova que deveria realizar-se entre sábado e 20 de Janeiro, questionou ainda por que «antigamente os pilotos sobreviviam e hoje em dia não sobrevivem?».
«Dá que pensar se somos cada vez menos capazes, menos aptos de nos valermos a nós próprios. Este é o meu sentimento de frustração a falar», afirmou.
A portuguesa terminou dizendo que quer «acreditar que, para se anular o rali inteiro, o risco fosse de facto grande».
Em declarações à Agência Lusa, Bernardo Vilar também pensa que a decisão hoje tomada pela organização «é uma desgraça para o desporto automóvel e para a prova» e a anulação pode acabar com a prova no formato que se conhece.
«Se realmente o Dakar for anulado, acho que ele vai ficar por aqui... vai ser complicado depois convencer toda a gente a meter-se num novo Dakar com hipótese de não ter sucesso novamente. Tudo o que estava envolvido, desde patrocínios a equipas, vão deixar de dar crédito a esta prova. É muito chato para toda a gente que está inscrita e envolvida na prova», considerou.
Para o piloto, um dos mais experientes no Dakar, com 13 participações, o rali passará então «a chamar-se outra coisa». «Tem que se inventar outro nome, porque o Dakar realmente é ali, é no coração do Sahara. Se não se for para lá tem que se inventar outra prova. Mas esta, com este cariz, com o encanto deste recanto africano, é ali», afirmou.
O piloto recordou, no entanto, que «as relações com a Mauritânia também nunca foram sempre boas e o país nunca foi 100 por cento seguro».
«Sempre houve complicações. Desta vez, se calhar, a coisa é mais grave. Mas do ponto de vista desportivo é uma facada terrível em patrocinadores, pilotos, equipas. Toda essa gente vai ficar aqui com um trauma gigante com este acontecimento», reiterou.
Fonte: DD
04 janeiro 2008
Reacções (VI) - Jacinto e Vilar falam em fim da prova
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