16 janeiro 2006

Alphand e Coma ganham pela primeira vez, Tchaguine conquista a sua 5ª vitória.

Finalmente, 93 motards, 64 carros e 33 camiões chegaram ao fim do 28º Euromilhões–Lisboa-Dakar . Luc Alphand, em carro, e Marc Coma, em moto, foram pela primeira vez consagrados vencedores deste rali. Vladimir Tchaguine, ao volante de um camião Kamaz, conquistou o título pela quinta vez.

Por respeito à memória das duas crianças falecidas à passagem do rali, na Guiné e no Senegal, a especial do Lac Rose não foi hoje cronometrada. O tempo oficial considerado para a classificação final foram os registados no final da 14ª etapa, entre Tambacounda e Dakar.

A tradicional apoteose do último dia tinha, hoje, um travo amargo. A alegria dos concorrentes que fazem da volta ao Lac Rose o objectivo principal de um ano ou de uma vida, foi manchada pela tristeza ligada, por um lado, ao desaparecimento do motard Andy Caldecott e, por outro, à morte dos jovens Boubacar Diallo e Mohamed Ndaw
.


A cerimónia da subida ao pódio do Lac Rose revestiu-se de uma dimensão simbólica à qual os concorrentes estão tão ligados, uma vez que a competição desportiva, para as três categorias, estava decidida há já alguns dias. Nas motos, a vitória final de Marc Coma vem de encontro às previsões anteriores ao rali, uma vez que este espanhol foi, desde a partida de Lisboa, considerado o grande rival de Cyril Despres, que se esforçaria por defender o título. Marc Coma confirmou, com uma solidez e gestão de corrida exemplares que a maldição espanhola, que em tempos atingiu Jordi Arcarons e depois “Nani” Roma, já foi ultrapassada.

Por isso, o duelo esperado entre os dois grandes favoritos da competição não chegou a acontecer na realidade. O plano escolhido por Depres, e que consistia em manter-se prudentemente ao ritmo dos melhores antes de passar ao domínio da corrida numa das etapas da Mauritânia, foi respeitado até à 6ª etapa, entre Tan-Tan e Zouerat. Mas no km 273, o detentor do título sofreu uma luxação do ombro na sequência de uma queda aparatosa. Hesitando, durante muito tempo, sobre a sua capacidade de aguentar a dor durante todo o rali, ele realizou corajosamente alguns golpes brilhantes, como na estrada para Nouakchott, onde dirigiu o seu colega de equipa, David Casteu, para uma primeira vitória de etapa, ou naquela especial de Kiffa onde roubou alguns minutos a Marc Coma. No final, Despres terminou o Dakar com quatro vitórias de etapa, mas também com algumas más escolhas em termos de navegação que, de qualquer forma, teriam comprometido uma luta de igual para igual com Coma.

Isidre Esteve Pujol poderia ter aproveitado o atraso de Despres para defender as hipóteses da equipa KTM – Gauloises. Mas depois de uma pesada queda que lhe causou uma ruptura do baço, na etapa Nouakchott-Kiffa, o trio de que ele se tinha distanciado já só tinha um nome: Marc Coma. O trabalho de Coma, nomeadamente um percurso sem faltas para conseguir a sua posição é, ao mesmo tempo, uma prova do seu valor e uma homenagem a Andy Caldecott, o seu colega de equipa falecido, a quem dedicou a sua vitória.

Se a vitória não escapou de um dos favoritos, o Dakar 2006 permitiu descobrir alguns motards, vindos de todos os horizontes, e que devem ser levados a sério nas próximas edições. Os portugueses Ruben Faria e Hélder Rodrigues, que não se contentaram em assegurar o espectáculo em casa, nas duas primeiras etapas, fizeram uma entrada notável. David Casteu que disputava o seu primeiro Dakar como piloto oficial, cumpriu verdadeiramente a sua função de “aguadeiro” e ainda ganhou uma vitória de etapa, terminando em 8º lugar da classificação geral. Alain Duclos, vencedor da categoria marathon graças ao 7º lugar da classificação geral, ganhou, em Bamako, um vitória de honra para a sua cidade natal. Os americanos Chris Blais, este ano em 4º lugar, e Jonah Street, 17º na sua primeira participação mas muito observado no final do rali, ainda darão muito que falar no futuro.

A classificação específica para os motards que concorrem sem assistência foi arrebatada por Patrice Carillon (29ª da geral). A corrida feminina, privada da detentora do título, Ludivine Puy, devido a uma queda quando estava ao comando da categoria, foi ganha por Patricia Watson Miller.



A vitória de Luc Alphand não surpreende ninguém. O seu segundo lugar em 2005, no seu primeiro ano na Mitsubishi, tinha deixado antever um futuro mais radioso. Com o carro que parece estar melhor talhado para o Dakar, as suas ambições de vitória eram, portanto, legítimas. Faltava-lhe, ainda, neutralizar o seu colega de equipa Stéphane Peterhansel. E dominar os carros da “vizinha” da frente, a Volkswagen, cujos Race Touareg II revelaram-se ameaçadores.

O esquema de corrida imaginado por Peterhansel seguia o mesmo traçado daquele previsto por Despres. E funcionou ainda durante mais tempo. “Peter” explorou ao máximo as possibilidades do seu Mitsubishi Pajero Evo 4 no terreno mauritano, onde as distâncias se agudizaram. Ao chegar ao Mali, o piloto da Mitsubishi tinha, pelo caminho, arrebatado o recorde absoluto de vitórias de etapa (51) e o seu confortável avanço de 40 minutos sobre Luc Alphand dava às próximas especiais o aspecto de um passeio na avenida. Mas as reviravoltas são, por vezes, cruéis. Na especial para Labé, Peterhansel cometeu um erro irreparável, ao embater numa árvore, o que obrigou a ficar parado várias horas. Parecia o remake de um mau filme, do qual já tinha sido o herói em 2003, na etapa para Sharm-El-Sheikh.

Luc Alphand, que estava constantemente a uma distância razoável, recebeu este “presente” mas encheu-se de brio para dar uns retoques finais nos últimos dias. Para controlar o perigo chamado Villiers, o antigo praticante de Sky, conquistou de seguida duas vitórias de etapa, em Labé e em Tambacounda. Ali, onde Peterhansel tinha tremido, Alphand resistiu de forma notável à pressão. A sua vantagem sobre Villiers foi de 17’53’’. Largamente suficiente.

Numa primeira fase, a atenção foi monopolizada pelos Volkswagen, e o rali foi aberto com um festival do debutante Carlos Sainz. Vencedor das duas primeiras especiais portuguesas, o duplo campeão do mundial de rali (WRC), fez igualmente valer os seus talentos de piloto em Ouarzazate, mas no dia de descanso já tinha perdido todas as hipóteses de vitória final. Alternando entre o melhor e o pior, Carlos Sainz passou, entre outros percalços, várias horas parado no km 26 da especial para Nouakchott. O espanhol tinha vindo para aprender. Por vezes a lição foi severa mas, mesmo assim, ele vai-se embora com quatro vitórias de etapa, o recorde do ano.

À imagem de Sainz, a frota dos Race Touareg II conheceu cada vez mais problemas enquanto que os Mitsubishi encontravam a estabilidade. No mesmo dia, Bruno Saby perdeu cerca de sete horas. Três etapas mais tarde, foi Jutta Kleinschmidt que saiu de corrida por causa de um choque com uma árvore. Finalmente foi Giniel de Villiers, com um 2º lugar na classificação geral, conseguido à custa de um nível mínimo de problemas, que melhor representou a marca alemã.

A escuderia Schlesser-Ford também se posicionou, momentaneamente, como uma alternativa credível aos Mitsubishi e aos Volkswagen. Os três carros da equipa chegaram a Dakar e o recrutamento de Thierry Magnaldi terá sido o achado do ano. Vencedor em Zouerat e em Nouakchott, o ex-motard conseguiu duas das três vitórias da equipa, enquanto Jean-Louis Schlesser, o patrão da equipa, ganhou a sua primeira vitória desde 2001 em Er Rachidia. O peso dos buggy azuis na classificação geral não foi tão significativo como esperavam (Schlesser em 6º e Magnaldi em 10º) mas a colheita de 2006 deve agradar ao construtor. A animação da corrida foi igualmente assegurada pelos BMW – XRaid, nomeadamente com um belo final de rali para Guerlain Chicherit, que prossegue a sua aprendizagem do Dakar com uma vitória de etapa entre Tambacounda e Dakar.

Atrás da elite, a competição dos amadores foi conquistada por Bob Ten Harkel e Herman Vaanholt, num Land Rover (19º na geral), o mesmo carro dos concorrentes Miguel Barbosa e Miguel Ramalho (22º). A competição entre os veículos de produção foi quase sempre dominada por Jean-Jacques Ratet ao volante de um Toyota HDJ 100 (18º), e a classificação dos T2 diesel foi parar às mãos do japonês Yoshio Ikemachi (23º). Uma menção especial para Florence Bourgnon e Corentine Quiniou (50º), única equipa feminina a chegar ao Lac Rose, e para o português Ricardo Leal dos Santos (46º), que começou e terminou o rali, sozinho, ao volante de um Mitsubishi Pajero.


A competição de camiões não escapou aos Kamaz, mais precisamente a Vladimir Tchaguine, que desenvolveu todos os meios necessários para não viver uma desventura igual à de 2005. Ao conseguir um avanço superior a três horas, depois de ter ganho as seis primeiras especiais, o “Czar” pôs-se ao abrigo da concorrência. Foi uma boa ideia, uma vez que Tchaguine ficou duas vezes atascado nas areias da Mauritânia. Depois, ajudado pelo seu colega Firdaus Kabirov, geriu o seu avanço sobre Hans Stacey, o qual beneficiou, mesmo assim, de liberdade suficiente para ganhar cinco etapas. Em Dakar, Tchaguine festeja o seu 5º título, e o sétimo para a Kamaz.


FONTE: sitio oficial

Sem comentários: