13 janeiro 2006

"O Dakar é mais uma aventura que uma prova de todo-o-terreno”

Uma das grandes curiosidades desta Lisboa Dakar (inevitavelmente os balanços começam a ser feitos...) era ver a reacção que a maioria dos pilotos Lusos teria a sua primeira experiência na prova.
É que o Dakar não é para meninos(as)...
Lembro-me que antes da prova Jacinto dizia que mais de metade dos Portugueses que embarcavam pela primeira vez não voltariam á prova. Fiquei um pouco surpreendido com a afirmação mas penssando um pouco faz todo o sentido.
Deixo-vos aqui as primeiras impressões de Luís Costa enviadas pela sua equipa a Moletto Sport. Vale a pena ler para Conhecer um pouco melhor a Rainha do TT.



A amadurecer para o futuro…
O Dakar é mais uma aventura que uma competição
- considera Luís Costa, “regressado” ao convívio,
quase dois dias depois do acidente

Luís Costa/Pedro Lima chegaram a Kiffa cerca de 30 horas depois de terem sofrido um acidente, ao quilómetro 250 do sector cronometrado da 9ª etapa do Lisboa/Dakar. Exausto, com inúmeros pensamentos à espera de serem direccionados, o piloto quer, para já, deixar arrefecer ideias antes de tomar decisões definitivas.

Abalado com o acidente que o deixou fora de prova e, apesar de tudo, carregado com uma experiência que nunca esquecerá, Luís Costa relembra como tudo se passou:

“À partida para a etapa, teoricamente, a mais dura do Dakar, eu e o Pedro Lima já estávamos preocupados com a embraiagem do Toyota, admitindo que seria muito complicado fazer frente a tanta areia naquelas circunstâncias. Passámos o primeiro cordão de dunas sempre sobre pressão, com visibilidade reduzida, devido ao pó levantado por concorrentes mais lentos e pelos muitos camiões que tivemos de ultrapassar. Foi uma situação difícil de gerir, pois com os problemas na embraiagem, era quase impensável parar”.

Na opinião de Luís Costa o acidente ocorreu devido a um conjunto de factores, que passou obviamente, pela pressão, a que estavam sujeitos, mas também pela falta de experiência naquele tipo de prova, como o próprio piloto admitiu.

“A minha inexperiência terá estado na origem do que aconteceu. Qualquer distracção paga-se cara!”, referiu o piloto, que explica como tudo sucedeu:

“Tivemos um ligeiro desvio de percurso e em plena planície, quando rolávamos a cerca de 120 Km/hora, não reparei num monte de areia oculto por vegetação e o carro voou cerca de 16 metros, tendo embatido primeiro de frente e depois de traseira ao fim de duas ou três voltas. Infelizmente ficou muito danificado e foi impossível prosseguir”. Piloto e navegador não sofreram qualquer dano físico e Luís Costa graceja: “Não senti rigorosamente nada. Acho mesmo que as minhas costas até ficaram melhor”...

A 9ª etapa ficará, por certo, na memória de muitos. De referir que Caldecott perdeu a vida, a cerca de 20 quilómetros do local onde Luís Costa ficou acidentado. Quem ficou pelo caminho esperou horas para ser recolhido pelos dois “camiões vassoura”. Um autêntico calvário...

“Demorámos 24 horas para fazer 450 Km”, referiu Luís Costa, que adiantou algumas das peripécias vividas após o acidente: “Quando os camiões chegaram ao local, já lá iam nove motos. Uma viatura de assistência médica cruzou-se connosco, quilómetros mais tarde e um dos médicos, sentiu-se mal. Após mais uma paragem, fui eu que tive de levar o carro dos médicos durante cerca de quatrocentos quilómetros. Foi mais uma longa aventura, pois as dificuldades do terreno eram tais, que tive de ser rebocado pelos camiões, para aí, umas dez vezes. Demorámos cinco horas para fazer cem quilómetros!”

Com as forças a faltar e o ânimo em baixo, o grupo acabou por chegar a Kiffa, depois de ter saciado a fome num bivouac da Mitsubishi, onde foram todos acolhidos com simpatia e camaradagem.

Agora, para Luís Costa, é tempo de balanço e de amadurecer ideias. “É impossível ter um raciocínio claro, com a cabeça quente. O Dakar é uma prova de alguns riscos. Muito difícil e muito dura, exigindo alta concentração, muita resistência física e emocional. Eu sou um piloto que gosta de acelerar. Falei muito com o espanhol Blazquez e ambos chegámos à conclusão que somos pilotos de Bajas. A contenção para uma prova deste género é tão grande, que não sei se isto é de facto adequado à minha maneira de estar na competição. O Dakar é mais uma aventura que uma prova de todo-o-terreno”.

Luís Costa e a Moletto Sport participaram na edição deste ano do Lisboa/Dakar com o intuito de ganhar experiência para futuras edições. O líder da equipa marca bem a diferença entre os objectivos que o levaram até África.



“Existe a parte comercial e a pessoal. A evolução da estrutura da Moletto Sport leva a que, no futuro, seja possível proporcionar a diversos pilotos participações calculadas, em provas internacionais. Por essa razão, foi muito importante a nossa deslocação até aqui. Neste momento, em termos pessoais, estou algo dividido. Ou o Dakar não foi mesmo feito para um piloto com as minhas características, ou terei de cá voltar com um carro homologado em T2, que seja muito competitivo. O Toyota Land Cruiser mostrou-se um carro extremamente resistente, mas é necessário dosear o andamento. Perder tempo atrás de concorrentes atrasados é um teste psicotécnico demasiado forte”.

Luís Costa e Pedro Lima tiveram sempre uma excelente ligação durante os nove dias de prova. Os dois tripulantes do Toyota formaram uma equipa perfeita. Ainda na Mauritânia, para resolver o destino a dar ao Land Cruiser, Luís Costa pensa ir até ao Senegal para assistir às duas últimas etapas, e esperar pelos resistentes Adélio Machado/Laurent Flamant e Céu Pires de Lima/Arnaldo Marques, que tentam levar as cores da Moletto Sport até Dakar.

PSL