31 janeiro 2007

Chegou a ser assustador!!

Afirmam os pilotos Mário Ferreira e José Carlos Sousa no balanço da sua primeira participação no maior rali do mundo

O Euromilhões Lisboa-Dakar 2007 chegou ao fim. Com ele, os sonhos concretizados de uns e as desilusões de muitos que ficaram pelo caminho. Para a equipa laranjinha, constituída pelos empresários nortenhos Mário Ferreira e José Carlos Sousa, a sua participação foi coroada de êxito, meticulosamente gerida como se das respectivas empresas se tratasse, mas sem nunca perder o verdadeiro sentido de aventura com que desenvolveram o projecto, desde o primeiro minuto.
A exploração do prazer nas mais diversas situações levou-os, mesmo, a trocar de posições na condução e na navegação, ao longo da prova, de modo a que ambos pudessem fruir novas experiências no todo o terreno de alta competição, sem que isso afectasse as suas prestações ou o espírito com que encararam a corrida. Mas foram mais longe: foram recolhendo imagens por onde passavam, um olhar de dentro para fora, reunindo assim mais um interessante acervo fotográfico, a juntar ao já imenso e valioso que Mário Ferreira possui.

Após cerca de oito mil quilómetros, a equipa tem sobejos motivos de orgulho na sua 106ª posição final, sobretudo ao verificar que cerca de 200 equipas auto, ainda em frente ao Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, tinham feito votos para terem estado na grande festa do Lac Rose, o que veio a acontecer para quase metade delas. Isto, sem falarmos nas motos e nos camiões, para além de diversos veículos de assistência(!) que também ficaram pelo caminho.

Numa breve análise global à prova, lado a lado com José Carlos Sousa, Mário Ferreira considera:
- O Lisboa-Dakar é uma prova muito dura, muito para além do que se imagina antes de participar. Ocorrem, permanentemente, situações de perigo para as máquinas e para as pessoas que as tripulam. Mas há também o perigo dos sítios hostis, das pistas difíceis e cheias de armadilhas, dos animais, a pressão das horas que nos podem levar a cometer os pequenos grandes erros, a condução rápida no meio do pó, a pressão da noite, da escuridão total, do isolamento, do receio de nos perdermos…
- E a viagem, a tal aventura?
- Fabulosa! Percorrer África é sempre um mistério. Paisagens muito diferentes, apesar de alguns elementos comuns, ora em plena areia de múltiplas tonalidades, ora num cenário caracterizadamente lunar, seguido de um deserto pedregoso e logo, a savana e a floresta. Depois da travessia de Portugal para Marrocos, e da breve passagem em Tan Tan, é necessário chegar a Dakar para voltar a ver o mar. Uma viagem muito rica em experiências para os sentidos.

- Uma boa experiência enquanto equipa?
- Foi excelente. Uma equipa que se complementou muito bem, a todos os níveis, que soube gerir as características de cada um em benefício da eficácia. Para duas pessoas que se tinham conhecido pouco tempo antes, não poderia ter corrido melhor!

- A eficácia aconteceu, também, com a assistência da Toyota France, a avaliar pelos poucos problemas verificados…
- Há que dizê-lo, tivemos uma assistência irrepreensível. Foi contratado um mecânico português, o Francisco, da Moletto Sport, para integrar a assistência da Toyota France, tendo sido ajudado por outro português, o Rodrigues, que dava apoio a outra equipa portuguesa e que também acompanhou a nossa. Tudo o que foi necessário fazer ao carro, antes de haver qualquer problema, foi feito. A caixa de velocidades foi substituída no meio das dunas, aproveitou-se para substituir a embraiagem e nas assistências de final de etapa, a atenção técnica era total.

- Tudo isso significa que correu conforme as expectativas…
- Correspondeu integralmente. Por isso nos preparámos o melhor possível e definimos o projecto de participação ao pormenor.

Investimento
totalmente coberto

- Um investimento cujos números terão ido além do que fora inicialmente previsto?
- É tudo muito relativo. Como tive oportunidade de dizer publicamente, a nossa equipa terá sido das poucas, sobretudo entre os portugueses, que partiu para o Dakar já com todos os custos cobertos, incluindo o carro! Naturalmente, temos a agradecer aos nossos patrocinadores, que acreditaram na filosofia do nosso projecto de participação, numa prova em que geralmente, só as equipas da frente é que têm o máximo retorno e visibilidade. Julgamos que os nossos apoiantes financeiros e outros se sentirão, hoje, recompensados. Concluímos o Dakar, esta, a nossa grande vitória e fomos os únicos rookies na categoria T2 a chegar ao fim.


- A pergunta inevitável: como é que uma equipa rookie gere a sua participação no maior rali do mundo?
- Tal como já o dissemos algumas vezes: como gerimos as nossas empresas. Todos os investimentos a efectuar têm de ser analisados, tal como é preciso gerir cada situação, perspectivá-las sob diferentes ângulos, A ponderação é essencial para não se entrar em loucuras e chegar ao fim. Uma vez mais, há que saber gerir os recursos técnicos e humanos para que tudo corra bem.

- Quais as situações de maior dificuldade?
- Em abono da verdade, foi conduzir ou navegar à noite, praticamente sem luz, nem das estrelas e no meio do pó…Chega a ser assustador!
- Poder-se-á dizer que partiram rookies e regressam profs?...
- Não, de todo! Regressamos rookies, com uma importante experiência assimilada mas, ainda, com muita coisa para aprender!!
Os conselhos do prof Luís Costa foram recordados nas situações de maior apuro?
Inevitavelmente. Sobretudo as aulas de condução em areia e diversas situações práticas que treinámos com ele. Valeu a pena.

- Quer dizer que valerá a pena voltar?
- Foi muito interessante mas, para já, vamos digerir tudo isto. Adiante se verá. Agora, é o “caminho das estrelas”.

- Quais as principais imagens a reter?
- São três: a escuridão, o nevoeiro, o travar a fundo; o pôr do sol entre as dunas; o espírito lusitano de vencer todas as dificuldades!


Fontes: matosinhoshoje.com e infordesporto.pt

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